Por Guilherme Lopes
Na atual conjuntura que atravessamos é muito importante seguirmos as recomendações do Ministério da Saúde, como lavar bem as mãos, evitar aglomerações e, claro, também se entreter! Às vezes, o tédio pode se tornar um problema muito grande e, hoje, por meio deste texto, eu trouxe algumas indicações de bons livros (e um gibi) para tornar seu isolamento mais suportável!
Norwegian Wood (Haruki Murakami)
Livro lançado em 1987, o título pertence a uma música dos Beatles, e um ponto muito interessante da narrativa é o envolvimento que os personagens tem com a letra. A história acompanha Toru Watanabe, um jovem suburbano com uma vida inteira pela frente e que se vê em uma situação complicada, ao se envolver com a Naoko, a namorada de seu recém falecido ex-melhor amigo, este que cometeu suicídio, chocando a todos (a mais afetada é Naoko, que sofre com sérios problemas após o ocorrido). A história é ambientada no Japão dos anos 60, em meio a revoltas estudantis e tumultos emocionais. Toru narra seus anos tediosos na faculdade e também seu envolvimento com Naoko.
Norgewian Wood vai além de um romance convencional. Nesse livro, os personagens são profundos, com defeitos, deficiências, qualidades e emoções. Um ponto muito destacado é o equilíbrio entre vida e morte, os personagens vivem em constante questionamento sobre a existência e também se vale a pena sobreviver para uma vida vazia e monótona, seguindo muitas vezes uma linha de pensamento quase niilista. O livro é fácil de encontrar, e apesar do tamanho, a leitura flui muito rápido. Murakami é um mestre quando se fala de ritmo e desenvolvimento de personagens. Um livraço que pode abrir seus horizontes para uma cultura diferente da que conhecemos!
Dias Perfeitos (Raphael Montes)
O que falar desse livro? Primeiro, é importante ressaltar que se trata de um jovem autor brasileiro, o talentosíssimo Raphael Montes (já li tudo que ele lançou até o momento) tem um estilo único de narrar suas histórias, trazendo muita tensão e um ritmo tão dinâmico, que parece que você está vendo uma série e não lendo um livro.
Dias Perfeitos conta a história de Téo, um jovem estudante de medicina, problemático, MUITO problemático. E porquê? Bom, a mãe de Téo sofreu um acidente e ficou paraplégica, ele cuida da mãe e não tem amigos vivos, aí você se pergunta: Como assim, VIVOS? É porque a única amiga de verdade dele é uma defunta, chamada Gertrudes. E não, Gertrudes não é um fantasma, ela é um cadáver mesmo, utilizado como objeto de estudo pelos estudantes de medicina.
Téo é o narrador da história, você está dentro da mente dele e enxerga o mundo como Téo, o que torna a narrativa mais sombria ainda. Até que, certo dia, ele vai a uma festa de família e acaba conhecendo Clarice, uma estudante de humanas, desinibida, imponente e empoderada. Ele passa um tempo conversando com a garota e, daquele momento em diante, nasce uma obsessão doentia de Téo por Clarice, a ponto de acontecerem coisas… vou parar por aqui, senão vou acabar dando spoilers.
É o livro perfeito para emprestar para aquela pessoa que não anda respeitando as orientações do Ministério da Saúde: depois de conhecer Téo, talvez a melhor opção seja ficar em casa mesmo, assistindo Netflix e comendo muita pipoca.
Mosquitolândia (David Arnold)
Existe um certo preconceito com os YA (Young Adult ou romance adolescente). Tudo bem que muitos livros do gênero acabam seguindo o mesmo padrão, com personagens parecidos enfrentando problemas que não condizem com a idade deles, refletindo sobre a vida como se fossem sábios (sendo que são só adolescentes imaturos) e aquele enredo não tão intrigante, salvo alguns casos. Mas Mosquitolândia é diferente!
O livro acompanha Iris Malone, uma garota de 16 anos, que foge muito da figura de adolescente padrão. Ela é uma menina estranha (ela se descreve assim) e com muitos problemas. Certo dia ela resolve fazer uma viagem do Mississipi até Clevelad, para encontrar sua mãe, ela toma essa decisão após ouvir a madrasta comentando que a mãe dela possa estar doente.
A viagem traz muitas surpresas para Iris e aborda temas sérios com muita maturidade e responsabilidade, como depressão, homossexualismo, Síndrome de Down, abuso sexual, amizade, família e autoconhecimento. Iris é uma personagem muito interessante e poderosa, no sentido de potencial de desenvolvimento e também da maneira como ela começa a história, e como termina. Com certeza é o tipo de livro que fará você refletir sobre determinados temas e quem sabe até conhecer um gênero novo e tão interessante como o YA.
Guerra do Velho (John Scalzi)
Esse é fácil de falar, a frase na contracapa do livro já entrega uma premissa muito interessante.
“No meu aniversário de 75 anos fiz duas coisas: visitei o túmulo da minha esposa, depois entrei para o exército.”
E do que se trata? Guerra do Velho entra na categoria dos grandes livros da ficção cientifica contemporânea, vencedor de muitos prêmios e com uma narrativa frenética, cheia de ação e aventura. Na história, o protagonista John Perry se alista para o exército ao completar 75 anos. E por que isso acontece? Na verdade, é algo bem comum no universo criado pelo autor. Uma companhia espacial recruta idosos para travarem batalhas contra alienígenas por toda a galáxia, desbravando novos planetas e culturas. E por que recrutam idosos? Aí você tem que ler o livro para entender, meu companheiro!
O livro é fácil de ler, dinâmico e te deixa imerso pela narrativa. É fácil de entender, com menos de 50 páginas todas regras já foram impostas sobre o funcionamento daquele universo e também objetivos e obstáculos que os personagens enfrentarão. Recomendo para quem gosta desse tipo de leitura e também para quem busca algo diferente e rápido!
Meu Amigo Dahmer (Derf Backderf)
Desenhado e escrito por Derf Backderf, que foi mesmo “amigo” de Jeffrey Dahmer, em meados dos anos 70, bem antes das tragédias acontecerem. Sim, tragédias. Dahmer cometeu uma série de assassinatos cruéis entre 1978 e 1991, crimes hediondos, macabros. Mas o foco não é nessa parte e, sim, na adolescência de Dahmer, é uma espécie de documentário que mostra o caos que era a escola e como todo esse ambiente terrível (escolar e familiar) pode afetar a cabeça de uma criança, alguns sobrevivem (como Backderf), outros nem tanto.
Estranhamento e melancolia reinam ao longo da vida de Dahmer, ele vive circulando por zonas rurais e é quase invisível aos olhos dos pais, que só brigavam. Na escola, ele também era invisível e só interagia com outros alunos quando fingia ter ataques epilépticos (que inclusive, sua mãe tinha, ele a imitava) e a “interação” só acontecia por conta do estranhamento da situação, os “colegas” de classe achavam graça das bizarrices de Dahmer e, quando passavam a conhecê-lo melhor, percebiam que a melhor opção era manter distância mesmo. Ele não era sociável e nem um pouco agradável, logo cedo se tornou alcoólatra, já que era a única maneira que encontrou de fugir da realidade.
E não precisa ter medo de ler, o gibi não contém nenhuma cena de violência, nem nada pesado visualmente, a única coisa sombria é a história que ele narra, mostrando de perto como uma pessoa com problemas sérios pode sucumbir à escuridão em meio a um ambiente que, ao invés de ajudá-lo, só o empurrava mais para baixo. E ok, ele tinha mesmo uma mente maléfica e tendências sombrias, mas não recebeu nenhum suporte, foi negligenciado pelos pais, professores, nunca teve amigos para conversar. É uma história real e que nos leva a refletir sobre a sociedade em que vivemos, sobre as pessoas ao nosso redor e sobre nós mesmos.
E com tantas boas indicações fica fácil arrumar uma boa leitura, tem para todos os gostos. Um bom livro sempre abre nossa mente para novos e cativantes personagens, histórias envolventes e tramas bem elaboradas. Se eu pudesse dar um conselho a você, diria para ler todos! Ah, e se quiser, é só falar comigo que eu empresto, mas tem que devolver bonitinho!